Perdoa logo essa merda.


Escrito em: 17 de Abril de Dois Mil e Dezenove.

Perdoar é uma das coisas mais difíceis que existem nesse mundo. A gente faz a posição invertida na yoga, calcula derivadas de funções reais,  faz cem abdominais sequenciais, corre a São Silvestre, cria cinco filhos – sem a ajuda do pai. A gente enfrenta a crise política, lambe o cotovelo, não se estressa no trânsito de São Paulo – mesmo estando atrasada para o trabalho. Mas perdoar é uma tarefa complicada.
Quer dizer, sempre achei que tivesse facilidade pra isso, mas hoje estou em um impasse.


Perdoar não é esquecer o mal que alguém te fez, perdoar tem muito mais a ver com aprender a lidar com a dor e o desconforto que alguém te causou. É entender que você precisa continuar, que a mágoa só te tira o sono e não vai te levar a lugar algum. Perdoar é ser sábio o suficiente pra perceber que os seus ressentimentos não vão fazer diferença na vida do outro, mas sim, travar sua vida.
Perdoar exige renúncia a muita coisa – especialmente ao sabor (sempre delicioso) de se estar coberta de razão. Não que quem pede perdão sempre esteja errado. Mas, para estar na posição de precisar de perdão, essa pessoa certamente descumpriu um trato ou agiu unilateralmente.
E aí, ter o álibi de ter se mantido certa, mesmo quando o outro fulano errou, é um tesão. Porque aí a gente se sente maravilhosa, justa, honesta, bondosa, linda, gostosa e no direito de gritar isso aos quatro ventos enquanto aponta o dedo para o erro do outro.
Agora, a partir do momento em que se perdoa, já era.
Porque perdoar pressupõe voltar a um patamar de igualdade. RecomeçarAssumir um estado natural de confiança mútua, até que a promessa seja quebrada novamente.

Já não importa quem errou, o que passou passou, então vem
 – diriam Roberto Carlos, na canção original, e Claudia Leitte, na regravação meio romântica, meio axé Bahia.
E é isso que é perdoar: tratar o passado como passado, viver o presente e ter perspectivas de construir um futuro bom com quem foi perdoado. Pode até parecer oficina de como fazer origami modular com o seu papel de trouxa, mas isso é que é perdoar. O resto é qualquer outra coisa.

Espero me livrar das outras coisas logo, pra viver em paz. 

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