Nocaute.


Escrito em: 08 de Setembro de Dois Mil e Dezesseis.


Ele me bateu.


Foi como se tudo acontecesse em câmera lenta. Vi suas mensagens pra outras mulheres, vi seu desespero em não me deixar encostar no notebook, vi sua mão apertar meu pescoço e a visão se tornando turva. Caí na escada. Uma voz me trouxe de volta, ele gritava comigo:

*VOCÊ ME OBRIGA A TE MACHUCAR*



Levanto, mas minha alma esta no chão, corro pro quarto pra não chorar na frente de ninguém, existem câmeras na sala e eu só penso na vergonha. Ele vem atrás. Tento fechar a porta, mas ele é mais forte. 
Me deito na cama e choro, ele segura meu rosto com jeito de fúria e diz pra eu não chorar alto. Eu sussurro *te odeio*. Ele aperta meu rosto mais forte, eu tento me soltar. Ele me xinga. Fica de costas pra mim, resolvo me levantar pra procurar minhas coisas e ir embora, ele tenta me impedir e eu seguro os braços dele pra ele não me machucar de novo. Ele me empurra, fecha o punho e me acerta. Olho esquerdo atingido. Um soco que me fez deitar de volta na cama. Nocaute. 
Fico por uns segundos sem entender se aquilo estava mesmo acontecendo.
Ele aparece em meu campo de visão, desesperado. 


Grita: *VOCÊ ME OBRIGOU. VOCÊ ME OBRIGOU*

A tia dele aparece e sai correndo pra buscar gelo.
A pressão
psicológica
começa

Todos têm o objetivo de me manter calada, me apontam o dedo, dizem que a culpa foi minha, que eu incitei aquilo, que eu era louca. Ele diz que se eu for na polícia acabarei com a vida dele. Ele passou em um concurso e isso o desclassificaria.
Eu não queria ouvir.
Eu não queria saber.
Eu só queria estar em casa.
Eu só queria, alguém que me amasse, por perto. Eu não tinha ninguém, eram seis da manhã. Meu coração doía mais que meu olho, que a essa altura já estava inchado. Eu não conseguia falar. Eu olhava pra todos, desacreditada de que o buraco onde me enfiei por quase três anos, estava caindo terra e cobrindo minha dignidade, me enchendo de raiva e angústia.



Depois de uma hora ouvindo uma listagem do por que eu não devia acusa-lo, me pronuncio, enfim:
*não vou dizer nada a ninguém.*


Todos ficam aliviados. 


Inventei uma mentira. “Me deram uma cotovelada no metrô”, um absurdo possível. 
Morri naquele dia, meu relacionamento já estava morto tinha um tempo.
Senti nojo dele. Sento nojo de mim.
 Cheguei em casa com a mentira pronta, com uma vontade de urrar de dor, urrar de vergonha. Fui pro meu quarto e chorei até dormir. 
Não queria acordar. 
Talvez, esteja dormindo ainda. 
Talvez, eu já esteja morta por dentro. 

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